Para a maioria de nós, agosto é o mês de reencontros, de sorrisos, de abraços, da família, dos amigos, dos que chegam e dos que partem, dos colegas que regressam de férias e daqueles que as iniciam, de inúmeras idas e vindas ao aeroporto, de lágrimas e despedidas, de energias renovadas à mistura com a nostalgia de quem caminha a passos largos para a rotina do trabalho, num regresso cheio de ausências, de volta a uma casa que já se resignou, de novo, ao silêncio do vazio e devolveu ao seu lugar os habituais pertences.
A toda esta agitação, para quem (como eu!) tem filhos que rumam este ano à universidade, acresce um aperto angustiante no peito, acompanhado da pequenez de um coração, que bate sem dó nem piedade, dando vida a um estado de ansiedade difícil de controlar.
Se por um lado devemos estar imensamente gratos pelo privilégio de os termos visto crescer, de termos presenciado as suas vitórias e as suas derrotas, de lhes termos dado o nosso colo, por mais de 18 anos, como se fossem eternos bebés, de nos sentirmos as melhores mães do mundo sempre que o termómetro denunciava alguma febre, e nós, quase que automaticamente, triplicávamos os mimos e nos sentíamos bem mais importantes que um qualquer Brufen, por outro julgamos o tempo e a forma cruel e feroz como este passou, sem que, na correria dos dias, tivéssemos consciência disso.
E é nesta miscelânea de orgulho, medo, saudade, vazio, (des)confiança e esperança, que somos obrigadas a render-nos e a deixar aquilo que temos de visceralmente nosso, ganhar asas e voar… porque amar, também é deixar ir, mesmo que isso doa mais do que tudo o resto.
É também neste momento, que sem permissão, nos colocamos em causa: será que conseguimos construir asas robustas? Será que levam consigo os nossos valores? Será que desperdiçamos tempo? Ou que o priorizamos de forma equilibrada? E se tiver febre? Como será que vamos gerir as saudades? E o vazio? E o silêncio invariavelmente vencido pela sua presença? E se… E se… Tantos “ses” que ficam sem resposta.
Ser ilhéu, também é isto. É ter de sair da sua ilha para ir estudar, outrora com 14, 15 e 16 anos, felizmente, hoje, apenas quando atingem a maioridade. E enquanto eles vão, em busca de um sonho, levando na mochila o orgulho da açorianidade, cabe-nos a nós, que aqui ficamos, criarmos condições para que os nossos filhos regressem, e que mesmo fora se mantenham envolvidos no presente do Faial.
Para isso, cumpre-nos garantir que, em conjunto, conseguiremos criar oportunidades para voltarem, para aqui trabalharem, para aqui viverem, para aqui investirem, para aqui serem felizes e assim contribuírem para o progresso do Faial.
E neste particular, cabe também aos municípios e governo regional, unirem sinergias, uniformizarem procedimentos, ao invés de lançarem medidas avulsas, muitas delas geradoras de desigualdades, outras muito pouco ambiciosas, e outras ainda que apesarem de embelezarem meia dúzia de folhas brancas, quando colocadas em prática, são em si próprias totalmente incapazes de atrair um único jovem que seja, não surtindo por isso qualquer impacto no mercado de trabalho regional.
Por fim, é da mais elementar justiça reconhecermos aos açorianos que vão e não voltam, por motivos vários e não raras vezes alheios à sua vontade, o direito de voltarem à sua ilha, sem que para isso tenham de despender quantias exorbitantes (para não dizer proibitivas!) para viajarem, quer seja na rota Lisboa-Horta, quer na vinda de emigrantes dos EUA e Canadá.